sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

PAREDES MANCHADAS

Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles”.(Rm 16:17)

Entre os vários escândalos que temos presenciado, envolvendo certa igreja evangélica (onde seus líderes auto-entitulam-se como “bispos”), o último deles envolveu a prisão deste casal em Miami sob a acusação de remessa ilegal de divisas, ou seja: Estavam levando dinheiro ilegalmente para fora do Brasil. E uma parte da bolada estava escondida dentro de uma Bíblia. Na manhã do outro dia a sede daquela igreja amanheceu com as paredes externas pichadas, onde palavras de baixo calão podiam ser lidas, contra os líderes da igreja. Logo a direção tratou de atenuar o vexame e rapidamente cobriu com sacos plásticos pretos as paredes que estavam manchadas.Diante deste exemplo, coloquei-me a perguntar ao vento: Numa situação como esta, quais paredes ficam realmente manchadas? As paredes daquela igreja ou as paredes do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo?Sabemos que o julgamento virá do Senhor, mas não podemos deixar de expressar nossa indignação diante dos fatos e provas cristalinas que a justiça brasileira e americana, juntamente com a mídia, têm apresentado quase que semanalmente a respeito desse caso.Os escândalos e tropeços provocados por homens que, durante toda a história da Igreja Cristã, estiveram no poder, no caso do Catolicismo, com seus Papas e Cardeais, e da igreja chamada Protestante, com seus reis e rainhas que alteravam as doutrinas e costumes da Igreja ao seu bel prazer para satisfazer interesses próprios, vêm manchando as paredes do evangelho, paredes estas levantadas ao custo do trabalho de pedreiros como Pedro, Paulo, Timóteo, Calvino, Lutero, Agostinho, Wesley, contemporâneos como Martin Luther King e Billy Graham e tantos outros, que colocaram durante os séculos e últimas décadas os tijolos maciços da doutrina dos verdadeiros apóstolos, deixada por Cristo. Paredes pintadas com o sangue dos mártires, que antes do “ter” preferiam “ser”. Preferiam ser de Cristo para ter a vida eterna. Preferiam ser usados por Deus para ter frutos (almas alcançadas).Cruzadas sangrentas, onde o cristianismo era pretexto para o domínio das terras e a difusão das rotas comerciais no oriente. Inquisição sem razão de existir, visando muitas vezes à divisão de reinos. Criação de novas religiões cristãs, para satisfazer reis que queriam o divórcio. Movimentos de homens, dos quais Deus estava bem distante. E assim, de maneira claudicante, a ação dos “cristãos” ia manchando as paredes do Cristianismo.Com a reforma protestante acharam que a pureza e a simplicidade dos apóstolos voltariam a dominar e levariam os homens de volta “ao primeiro amor”. Lutero começou, os homens deram continuidade e surgiram as igrejas Tradicionais (Luteranas, Metodistas, Anglicanas, Batistas*, Presbiterianas, etc). Era um tempo onde nos chamavam de “os bíblias”, “os crentes”, “os protestantes”. Com a mudança iniciada por Lutero nem tudo foram flores, pois a perseguição era dura, mas as Tradicionais foram crescendo, se espalhando pelo mundo gradativamente, de maneira ordeira, sólidas nas suas doutrinas, mas, de certa forma, andando a passos lentos. Com as inconformidades internas acontecendo e demonstrando atitudes divergentes das doutrinas pregadas, grupos se desligaram das Tradicionais, trazendo à vida as chamadas igrejas pentecostais. Foi uma explosão! Andavam em passos mais rápidos que as Tradicionais, quase que correndo, empurradas pelo “fogo” e contando com a ajuda da história mundial para crescer (os países orientais começaram a abrir as portas para outras religiões, o bloco comunista – liderado pela então União Soviética – começou a deixar a famosa “cortina de ferro” entreaberta para a entrada das religiões, veio a queda do muro de Berlim, transformando as Alemanhas de então numa só). Porém, como o homem nunca está satisfeito, das Pentecostais surgiram as Neo-pentecostais, e dessas vieram as Comunidades e ainda, destas últimas, as igrejas com nomes no mínimo vexatórios (como a Igreja doCuspe Divino, por exemplo). Com todas essas divisões no meio dos “crentes”, alguém colocou todas as denominações no mesmo saco, sacudiu bem e houve a mudança de nossas identidades: todos passaram a ser chamados de evangélicos. Então houve uma borrifação das doutrinas pelas centenas de igrejas que surgiram, misturadas com as mandingas e simpatias de cultos pagãos e cristãos variados (fita no braço, novenas, água benta - do rio Jordão -, óleo santo, óleo secreto, fogueiras santas, chaves santas, etc). Muitos adeptos de cultos afro, acostumados com a relação de antes, onde precisavam oferecer algo em troca do serviço dos santos e entidades, vieram para as igrejas e por falta de ensino correto, continuaram a achar que a relação com Deus também deveria ser da mesma forma e a barganha com Ele prosseguiu. Os sacrifícios, as ofertas, o dinheiro! É o que podemos chamar de “doutrinas transgênicas” (alteradas, adaptadas, modificadas na essência), ou “sincretismo doutrinário”.“Ninguém me perguntou se eu queria ser chamado de evangélico!!! Acho que eu tenho o direito de escolher!!!”Porque essa confusão doutrinária? Principalmente pelo fato de não haver preparo espiritual e acadêmico (bíblico) dos pastores, bispos, obreiros, reverendos, etc, que muitas vezes aceitaram a Cristo há vinte dias, se batizaram há quinze dias e há dois dias foram consagrados como ministros do evangelho e colocados como líder de uma “filial” da igreja sede, que funcionam como empresas e a benção é medida pela arrecadação mensal de cada uma delas. Se recolhem pouco, o líder-gerente é mudado. O problema, em toda a história, não é a grande ramificação de igrejas e denominações existentes. Não. Não importa se existem centenas! Desde que todas elas pregassem e ensinassem a doutrina dos verdadeiros apóstolos. O evangelho puro, simples, cristalino, como Cristo demonstrou ao falar com a mulher samaritana, ao falar com o povo no célebre sermão do monte ou na celebração da ceia ou ainda em tantas outras situações. Mas isso não ocorreu, pois a tese de que a história humana sempre se repete foi comprovada. A grande maioria das igrejas evangélicas foi tomada, possuída pelo espírito das cruzadas, da inquisição e das atitudes hediondas que no passado caracterizavam uma igreja corrupta, que vivia de indulgências e que vendia a salvação (tanto dos vivos quanto dos que já haviam morrido). Práticas que Lutero era veementemente contra. Outras criam mazelas doutrinárias, como a proibição da celebração do Natal por associarem a uma festa do paganismo, ou a não comemoração dos aniversários, por ser mais um ano que se aproximam da morte.E então me vem uma outra dúvida: Será que vamos chegar ao nível de precisarmos de uma “contra-reforma protestante”? Sim, uma reforma dos “protestantes” contra os “evangélicos”?.Porém, um dos maiores problemas encontrados, quando tratamos das manchas que sujam as paredes da igreja de Cristo, são os falsos profetas, alguns mágicos, como Simão, tratado em Atos dos Apóstolos, que acham que podem comprar o poder do Espírito Santo. São homens e mulheres capazes de ludibriar as pessoas que de coração procuram conhecer Deus, pessoas que desejam Jesus de verdade nas suas vidas e vão atrás das doutrinas transgênicas ensinadas por esses mestres do inferno, que muitas das vezes querem apenas arrecadar, juntar e multiplicar os dízimos e ofertas para a satisfação pessoal, pois, para eles, o reino da terra é mais importante que o Reino de Deus. As paredes do evangelho são manchadas, pichadas mesmo, quando podemos ver em rede nacional escândalos como estes, onde os fiéis são taxados de “otários” pelos incrédulos e pelos de religião divergente. A prosperidade material não é proibida por Deus, mas a cobiça sim! Que o diga Abrahão, Davi, Salomão, Jó, José do Egito, que foram prósperos, mas nenhum destes homens obteve a sua através do engano, do furto, do desvio, do estelionato! Certa vez ouvi da boca de um obreiro de uma destas igrejas Neo-pentecostais: “Por Jesus, vale até gol de mão”, justificando que os fins justificam os meios na obra de Deus. Será que vale mesmo? Gol de mão é algo errado, proibido. Jesus não faria um gol com a mão, tampouco ensinaria (doutrinaria) alguém a fazê-lo. Mas muitas igrejas estão fazendo gols sem os pés e ensinando isso às suas ovelhas.“Senhor, eu quero voltar a ser chamado de “protestante”*!!! Tenho saudades dos anos em que me chamavam de “crente”e esses escândalos eram beeeeeeem menores, quando andávamos mais devagar, mas a doutrina era forte!!”.Sabemos que o sangue de Cristo (o sacrifício na cruz) é poderoso para pintar novamente, sempre que necessário, as paredes manchadas da Igreja, sem precisar esconder nada com sacos plásticos pretos, pois as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã. Mas a penalidade virá sobre aqueles que, se dizendo irmãos, zombam da repreensão de Deus (com esses, nem sequer comais, diz o apóstolo Paulo) que certamente virá, pois o preço pago no Calvário, somado ao sofrimento dos mártires, foi muito alto, caríssimo, para que meros mortais, sem temor de Deus, meliantes em potencial, sem caráter cristão, venham a manchar as paredes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ai do mundo, por causa dos tropeços! Pois é inevitável que venham; mas ai do homem por quem o tropeço vier!” (Mt 18:7)".

Protestantismo: significa o grupo de príncipes e cidades imperiais que, na dieta de Speyer, em 1529, assinaram um protesto contra o Édito de Worms que proibiu os ensinamentos Luteranos no Sacro Império Romano. A partir daí, a palavra "protestante" em áreas de língua alemã ainda se refere às Igrejas luteranas, enquanto que a designação comum para todas as igrejas originadas da Reforma é Reformado, no Brasil usa-se o termo Evangélico para dizer protestante.

C.S.Brito - 12.01.2007

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