sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

PÃO E CIRCO


Um dentre os vários motivos que mantiveram Roma em seu apogeu foi a chamada “política do pão e circo”. A idéia era simples, porém eficaz: O povo precisava comer, então qual seria a melhor solução para o império? Dar-lhe pão para iludir a fome (até porque a quantidade distribuída não dava para saciar a fome, mas apenas enganá-la). O povo precisava se distrair, evitando assim passar muito tempo pensando nos problemas que assolavam Roma; as pessoas precisavam de diversão!Então, qual seria a melhor saída para isso? Dar-lhes com o que se divertir, ocupar o tempo de suas vidas e suas mentes, então chamavam os artistas circenses e os colocavam para distrair as multidões. Assim Roma conseguiu, durante muitos e muitos anos, empurrar para debaixo do tapete vermelho muitos problemas, erros, injustiças, intransigências e inflexibilidades de seus “Césares”. Enquanto a massa amenizava sua fome e era distraída, seus pensadores, filósofos, professores, mestres e formadores de opinião eram presos, mortos ou exilados. Os poucos que apontavam as coisas erradas eram silenciados sumariamente, tudo para que a suposta “PAX ROMANA” reinasse durante os períodos pós-guerra.
O que isso tem a ver com a igreja hoje? Bom, se deixarmos de lado um pouco o pedaço de pão que nos deram para comer e esquecermos momentaneamente o “espetáculo” que os púlpitos têm nos proporcionado durante os últimos anos e domingos de culto vamos poder pensar de maneira racional e perceber que muitas igrejas, independente da denominação estampada no peito de sua membresia, estão adotando a tática romana de nos entregar elementos que ajudam a enganar nossas carências físicas e psicológicas, mas, no fundo, não estão conseguindo preencher a lacuna da carência de Deus em nossas vidas e em nossas almas.
Não gosto muito de utilizar exemplos seculares em assuntos espirituais, mas como até as Escrituras dizem que “as pedras clamarão”, então tomei a liberdade de pegar um trecho de uma música do grupo Titãs, que resume o anseio das multidões:

“Bebida é água. Comida é pasto. Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte”.

Basicamente as igrejas hoje estão vivendo dessa maneira. O conteúdo de seus cultos é triste. Estão dando feno como alimento àqueles que freqüentam seus santuários. A liturgia tem que caminhar junto com o cronômetro, pois o ritual tem que ser impecável ao mesmo tempo em que o horário britânico para término tem que ser seguido à risca, independentemente se o Espírito Santo quiser falar mais um pouco. E as pregações, então? Não se fala mais de inferno, de diabo, de pecado, de arrependimento ou da volta de Cristo. Não se exorta mais o povo pelo microfone. Não.......hoje existem adaptações para essas palavras. Inferno é o “lado negro”, o diabo é o “inimigo”, pecado agora é apenas “erro” ou escorregada, arrependimento é “repensar atitudes” e a volta de Cristo....bem, esse assunto só tem importância para as igrejas Adventistas do 7º dia.
Alguns pastores defendem essa maneira de agir dizendo que as pessoas já tiveram uma semana difícil de trabalho, estudo, estresses e problemas e não querem ir à Igreja para ouvir “sermão”, mas sim escutar a “Palavra”. Por isso aboliram de suas prédicas a exortação e a chibatada (mesmo quando a membresia precisa ter a orelha puxada) e optaram por uma exposição positivista da mensagem bíblica. Resolveram trocar repreensões como “Conheço as tuas obras e bem sei que não és quente nem frio, mas morno e por isso vomitar-te-ei de minha boca” e optaram por “Mil cairão à tua direita, dez mil à tua esquerda, mas tu não serás abalado”. Falar sobre “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar, se converter de seus maus caminhos, etc, etc”, nem pensar!!! Porém, pregar que “somos mais do que vencedores” dá mais Ibope.....é melhor dizer que o irmão é o Super-homem do que dizer para ele que Deus está de olho nas suas atitudes erradas e seu pecado ou que ele não passa de um grão de areia e que a vida dele é como um vapor que logo se esvai.
E o que me deixa mais estupefato é perceber que as igrejas tidas como tradicionais (impulsionadas por seus líderes e administradores) estão caminhando no mesmo rumo, pegando carona na estratégia do pão e circo, pois esta manobra ajuda a manter os “sócios” do clube chamado igreja e impede que eles debandem para outros arraiais. Por que o irmão precisa ir para a igreja tal se aqui em nossa igreja também oferecemos “comida, diversão e arte”? Por que a irmã precisa procurar respostas em outras igrejas se aqui na nossa oferecemos “saída para qualquer parte”?
E, dessa forma, a doutrina bíblica, pura, cristalina e correta, vai sendo deixada de lado e as igrejas vão se transformando em piscinas para crianças (azuis e rasas) oferecendo outro pão (que não é o pão da Vida) ao passo que o diabo (DIABOOOO!! Assim mesmo, sem medo de falar dele!) vai arrastando cada vez mais pessoas ao INFERNOOOO! Por causa de seus PECADOS, da PODRIDÃO de suas vidas sem Deus, pois nunca ouviram dizer que JESUS SALVA E QUE UM DIA VOLTARÁ! Não.... não querem mais pregar sobre isso. Coisas como essas agridem o amigo visitante e constrangem o irmão que o convidou... é melhor que essas coisas sejam empurradas para debaixo do tapete vermelho....onde os “Césares” podem facilmente pisar.
Igrejas que deixam Jesus à porta, apenas batendo, querendo entrar, estão fadadas a serem meros clubes terapêuticos para que seus membros participem de suas dinâmicas de grupo e rituais com o intuito de aguentarem mais uma semana de pressão e problemas do dia-a-dia até retornarem, mais uma vez às “quatro paredes santificadas”. Igrejas que não investem no estudo da Bíblia, na capacitação de seus professores e na doutrina que abraçam (se é que abraçam alguma) estão fadadas ao “inchaço” e não ao crescimento. Elas ficarão como o peixe Bacu, inchado, mas cheio de vento. O crescimento de uma igreja não se mede apenas pela quantidade de membros, mas também pela qualidade do aprendizado destes. É triste ver que muitas pessoas, com anos e anos de igreja, precisem voltar ao “jardim de infância bíblico” porque chegaram à conclusão de que sabiam pouquíssimo sobre Aquele que é a razão de nossa fé. Mas, por outro lado, até me alegro, por constatar que essas pessoas perceberam que passaram anos e anos dentro de suas igrejas participando apenas como a plebe romana: sendo alimentada com pão e divertida com circo....
Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Quem tiver tempo, entre um pedaço de pão o os malabaristas, pense...

C.S.Brito
30/08/2008

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